Fonte: Elizeu Ribeiro - CONTEÚDO/MS
Para muitas pessoas, o mês de maio é considerado um dos meses mais importantes do ano, seja por dias comemorativos ou até mesmo porque lembra pessoas especiais que nasceram nesta data. Mas para a categoria dos enfermeiros, o mês de maio tem um significado muito importante, aonde os servidores comemoraram entre os dias 12 a 20 de maio, a Semana Nacional da Enfermagem, que também incluem os Auxiliares Técnicos de Enfermagem.
Além de ser uma data comemorativa para categoria, o mês de maio também serve como uma reflexão em relação à saúde destes profissionais, que na maioria das vezes acabam se afastando do seu trabalho por conta de doenças adquiridas pela alta carga de estresse no ambiente de trabalho. Doenças essas que representam riscos a integridade física e mental dos trabalhadores.
Para o presidente do SIEMS (Sindicato dos Trabalhadores na Área de Enfermagem de Mato Grosso do Sul) Lazaro Santana, a saúde dos profissionais da enfermagem é vista como uma grande preocupação, principalmente para os do estado, que na maioria das vezes trabalham em ambientes sem a mínima estrutura.
“Ao falarmos em enfermagem, a primeira imagem é aquele profissional que cuida e dedica-se integralmente ao paciente. Isso de fato é uma das funções da enfermagem, no entanto, quem cuida destes trabalhadores? A responsabilidade de preservar pela saúde do profissional é do empregador que deve oferecer as condições necessárias, com o quantitativo de trabalhadores estabelecidos pelos Conselhos Regionais, evitando assim a sobrecarga de trabalho”, explica o presidente.
Segundo o SIEMS, as doenças que mais acometem a categoria são as psicossomáticas geradas principalmente pelo contato direto com sofrimentos dos pacientes, com a dor e a morte, trabalho noturno, rodízios de turno, jornadas duplas e até triplas de trabalho, ritmo acelerado, tarefas fragmentadas e repetitivas entre outros.
Estudos apontam que entre as principais doenças está a Síndrome de Burnout, na qual o trabalhador fica em estado de tensão emocional e estresse crônicos. Além disso, aumenta o quadro de profissionais com depressão, hipertensão e doenças ergonômicas.
A técnica de enfermagem que preferiu não ter o nome divulgado, falou ao Conteúdo MS que trabalhou 12 anos na Santa Casa de Campo Grande, segundo ela, a cerca de cinco anos ela precisou se afastar de suas atividades, pois não estava aguentando trabalhar em uma instituição que não oferecia o mínimo de condições de trabalho aos enfermeiros. Ela conta que muitas vezes precisou duplicar sua jornada de trabalho porque na época ganhava pouco, “o salário que eu ganhava não supria minhas despesas, meus gastos pessoais, eu me sentia envergonhada. Só os descontos na folha de pagamento, comia uma boa parte do meu salário”, conta.
A entrevistada também disse que além do baixo salário, ela era obrigada a se “desdobrar” em duas, porque na época o quadro de funcionários era reduzido e não conseguia suprir a demanda de atendimento aos pacientes, o que os deixava estressados e sobrecarregados. Segundo ela, além da demanda, existe o desrespeito tanto por parte do paciente, quanto dos próprios profissionais.
“Quantas vezes tive que ir ao banheiro chorar porque eu tentava fazer o meu melhor e o paciente não entende isso e acaba nos ofendendo. Ele (o paciente) nunca se coloca no lugar do enfermeiro, eles não entendem a nossa situação, o que passamos dentro de um hospital. As vezes faltava materiais básicos para trabalharmos, não tinha condições, disse a mulher.
O presidente o SIEMS explica ainda, que o cotidiano do enfermeiro já é estressante pelo fato de lidar com a questão do sofrimento, a rotina incerta que depende da forma como o paciente irá reagir, a sobrecarga de trabalho pelo quantitativo inadequado de profissionais, somados à exposição aos riscos biológicos, químicos, físicos e ergonômicos podem ocasionar danos à saúde do trabalhador, provocando vários tipos de sequelas, sendo elas agudas ou crônicas, esclarece o presidente.
“O trabalho de um profissional da enfermagem dependerá de como o paciente reagirá. A sistematização do processo de trabalho, ocorre por meio de prescrição elaborada por enfermeiro(a), no entanto não garante que aquele dia de trabalho ocorrerá conforme a prescrição, porque existe a correlação saúde, doença, paciente, o seja, dependerá do setor e do perfil do paciente. A instabilidade do paciente pode alterar a prescrição prevista inicialmente”, pontua Lázaro.