O II Semináro de Saúde Mental, que aconteceu no dia 30 de abril, realizado pelo Getrin, que contou com cerca de 180 participantes sendo a maioria da área de enfermagem, trouxe à tona uma questão crescente no Estado, mas ainda pouco debatida: Sofrimento, Suicídio e Impactos no Trabalho. Foi uma manhã produtiva, com abordagens clara e interação com os participantes.
«O salário é importante, mas não o suficiente. O que a pessoa busca para sua felicidade é uma boa relação com o seu trabalho, para que possa ter reconhecimento junto ao coletivo de trabalho». Essa, foi uma das abordagens do renomado Médico Dr. Àlvaro Merlo para demonstrar como o trabalho está atrelado à identidade pessoal de cada trabalhador podendo ser gerador de felicidade, bem como ser o gerador de problemas de saúde mental que podem culminar em suicídios.
Saúde Mental x Trabalho
O palestrante contextualizou a questão sociológica do trabalho, de transformação - destacando a importância do trabalhador se sentir bem, enfatizando que os modelos de gestão são fundamentais para fomentar um coletivo de trabalho que valorize cada profissional ao invés de promover disputas individuais.
«Tudo é decidido na prescrição, na repartição de tarefas, no sistema de supervisão, de controle, de comando, de hierarquia. Tudo, é uma questão de gerência» enfatizou.
Exemplificando, o médico destacou uma pirâmide denominada Dinâmica da Identidade Psicodinâmica do trabalhador, na qual o trabalho está no topo e nas bases estão: 1 - prazer sofrimento e 2 -reconhecimento. Sendo que a base 1, de acordo com o doutor, em geral é o aprendizado, a dificuldade de realizar o trabalho que transforma-se em prazer quando ocorre a aprendizagem na execução do serviço , mas, se não há o apoio coletivo e ao invés disso, ocorrer perseguição e assédio moral, ocorrerá um sabotagem da subjetividade onde a saúde mental do trabalhador a cada dia vai se degradando um pouco mais, gerando um tipo de negação conhecida como erosão progressiva de personalidade ocorrendo uma quebra de relação com a base 2, que é o reconhecimento.
Merlo ressaltou o problema da saúde mental vem por meio de uma cadeia de ações e é difícil a identificação dos problemas: “O conflito tende a ser tratado de forma individual, as gerências tendem a enxergar tudo como problema pessoal não entendem qual é o papel do trabalho para a construção da identidade e saúde mental. Os próprios trabalhadores têm enorme dificuldade em relatar com receio das pessoas não acreditarem”.
Quebra do Coletivo de Trabalho
O palestrante destacou que atualmente há muitos trabalhadores com longo período de solidão gerados pela dinâmica citada. “É muito sútil, somente sendo perceptível para quem está vivendo ou já viveu aquela situação” sobre possibilidade de ajuda apontou que há um caminho: “O coletivo de Trabalho é fundamental para ajudá-lo a sair daquela situação”.
O médico explicou que o Coletivo de Trabalho é espaço de proteção da saúde mental. Mas, se dentro das instituições ocorrer agressões advindas de competição, por exemplo, gerência coloca um contra o outro para qualificação de produtividade, acaba-se com o coletivo de trabalho. “A pessoa sente-se desigual, com sentimento de culpa e que culmina em desconforto em as vida.
Suicídio - Fim da Linha
De acordo com o palestrante, a partir da década de 90 passaram a ocorrer casos de suicídio no locais de trabalhos, sendo os primeiros registrados no Estados Unidos, motivados pela agressão de saúde mental por desqualificação do serviço e falta de reconhecimento. “O suicídio relacionado ao trabalho é uma violência dirigida contra si mesmo e a empresa”.
Nestes casos, “O coletivo de trabalho não foi capaz de compreender a gravidade da situação, o desespero do trabalhador que encontrava-se naquela situação”.
O médico afirmou que as estatísticas não revelam de fato as reais taxas de suicídios relacionados ao sofrimento no ambiente de trabalho, apontado que na realidade os dados quantitativos são muito maiores do que apontado pelos órgãos da saúde.
Recomendações
Com a premissa de que não são os mais frágeis psicologicamente que correm riscos, mas os mais comprometidos com o trabalho, Dr.Àlvaro apontou a saúde mental não depende apenas do indivíduo.
Primeiramente, segundo o especialista, é preciso que as pessoas que estão mentalmente fragilizadas consigam analisar, visualizar se os problemas pelos quais estão sofrendo são por motivos pessoais ou geradas pelo trabalho.
Aos profissionais, o doutor recomenda que ao perceber características de tristeza do colega de trabalho, rompam com a solidão por meio da escuta compreensiva do problema do trabalhador com a saúde mental abalada. “O paciente/trabalhador precisa saber que não está só nesta situação”.
O próximo passo importante é o acompanhamento psicoterapêutico, individual ou de grupo, que contribui para reestabelecer a saúde mental e impedir, desta forma, pensamentos suicidas.
Fonte: Adriana Miceli - Ascom SIEMS