Nicodemos Alencar - Jornal do Ônibus
A entrevista da semana é com Lázaro Antonio Santana, 36 anos, presidente do SIEMS (Sindicato dos Trabalhadores na Área de Enfermagem de Mato Grosso do Su) que atua há 13 anos na profissão e defende a primeira gestão no quadriênio 2012/2016. Lázaro aponta avanços conquistados para cerca de 17 mil profissionais de enfermagem no Estado, bem como a falta de atrativos e sobrecarga de trabalho imposta aos trabalhadores em estabelecimentos hospitalares. O SIEMS ainda tem a missão de intermediar o acordo salarial entre os profissionais e a classe patronal. A inflexibilidade da direção da Santa Casa em atender a reivindicação salarial da categoria gera um clima de instabilidade e iminência de greve que pode afetar o atendimento no hospital.Jornal do Ônibus – Quais os avanços que o SIEMS conquistou para os profissionais da área de enfermagem em MS?Lázaro Santana – Nós temos hoje uma base territorial em torno de 17 mil profissionais registrados no Conselho Regional de Enfermagem de MS (Coren-MS). O SIEMS só alcança os profissionais que são celetistas e nós temos conseguido alguns acordos coletivos separados. Comparado com a gestão anterior, esse ano nós já temos mais de 20 acordos separados que contempla diretamente os profissionais de enfermagem, não só remuneração, mas também oferece condições de trabalho. JO – Como está o mercado de trabalho hoje na área de enfermagem no Estado?LS – O mercado de trabalho está bastante aquecido, com muitas ofertas de trabalho. O que acontece é que atualmente faltam atrativos para que os profissionais queiram ingressar nas unidades hospitalares para poder prestar um serviço adequado, tanto para as empresas que contratam como à população. JO – Com relação à Santa Casa como está a negociação salarial?LS – Na Santa Casa, sempre todos os anos a gente acaba tendo dificuldades para negociar, mas nunca tivemos tanta resistência como esse ano e nessa nova administração. Começamos o processo de negociação a partir do dia 16 de maio e a partir daí a Santa Casa tem sido inflexível. Os profissionais pleiteam aumento de 16,43%, a direção apresentou um índice de reajuste de 6% e de lá pra cá não tem avançado nas negociações.JO – Qual o quadro de funcionários na Santa Casa e devido a esse descontentamento houve demissões?LS – Hoje o quadro de profissionais é de 1.200 profissionais. Atualmente, desse total, 200 profissionais estão afastados por motivos de doenças, amparado pela Previdência Social e mais de 120 profissionais pediram demissão, justamente por insatisfação devido a falta de valorização dos trabalhadores.JO – Conforme você expôs, atualmente existe um déficit de cerca de 300 profissionais na Santa Casa, pelas demissões e afastamento. Isso não afeta o atendimento à população no hospital?LS – Com certeza vai ficar um quadro mínimo de funcionários na assistência. Hoje já temos um déficit de quase 300 profissionais e caso seja deflagrada a greve vai reduzir ainda mais. Vai ficar apenas 30% para atendimento de emergência e 70% deve participar do movimento, cruzando os braços. Sem dúvida nenhuma, o atendimento à população vai ficar comprometido, com uma má assistência aos pacientes. JO – O SIEMS vem realizando assembleias com a categoria para discutir e construir o movimento. A deflagração da greve é iminente?LS – Na segunda-feira, fizemos três assembleias em todos os períodos: matutino, vespertino e noturno e ficou acertado que caso a Santa Casa continue inflexível com relação ao que pleiteamos e mantenha a mesma posição, nós iremos deflagrar a greve. Houve perdas, sem reposição salarial e hoje os profissionais estão sobrecarregados com uma jornada de trabalho estafante sem ser valorizado pela classe patronal.JO – Qual o salário atual pago aos profissionais de enfermagem na Santa Casa?LS – A Santa Casa oferece uma média salarial de R$ 1.043 aos profissionais de enfermagem. Além disso, tem o abono assiduidade que o profissional recebe, mas não pode ter faltas, nem atrasos ou apresentar atestados. Tem também o auxílio creche no valor de R$ 80 que a instituição oferece. Basicamente, é essa a proposta da administração. JO – A Santa Casa continua inflexível com relação à negociação salarial e o que é alegado pela direção?LS – A direção alega sempre a mesma coisa: a falta de recurso. Mesmo em gestão anteriores, que a Santa Casa não tem condições de arcar com o aumento na folha de pagamento. O Sindicato mostrou a direção da Santa Casa que os profissionais sofreram perdas com o aumento do índice inflacionário como da Cesta Básica e o aumento da gasolina, por exemplo. Isso os profissionais tem sentido diretamente no bolso e necessitam de um reajuste imediato.JO – O que o Sindicato pretende fazer para melhorar a qualidade do trabalho dos profissionais da área de enfermagem?LS – Hoje o profissional de enfermagem da Santa Casa está sobrecarregado. No ano passado, a Santa Casa reduziu o valor da insalubridade pago ao trabalhador na instituição, baseado em laudo pericial feito pela entidade. O SIEMS está contestando o laudo feito pela Santa Casa e inclusive já solicitamos a permissão para que um outro perito refaça o laudo pericial. O presidente da Santa Casa barrou a entrada do nosso perito e por isso a negociação não conseguiu avançar.JO – O SIEMS está aberto à negociações com a classe patronal?LS – Com certeza. O que eu sempre digo, é que o Sindicato dos Trabalhadores está aberto ao processo de negociação. Nós não queremos fazer greve, mas precisamos que sejamos atendidos em nossas reivindicações. O Sindicato tem conseguido bons resultados em negociações salariais com outras instituições e esperamos que isso aconteça também com a direção da Santa Casa.